sábado, 6 de junho de 2009

Piadinhas sem graça

Sabe aquelas tiradas clássicas que a gente sempre ouve? Tipo a do Mário, que sempre tem um engraçadinho pra fazer. Elas são clássicas, é verdade, mas eu sempre fico me perguntando se alguém ainda acha graça nelas.

Quem nunca teve que atender o celular perto de um palhaço que fica falando "Alô, mãe?", ou que fica gemendo, supostamente tentando fazer a pessoa com quem você está no telefone ouvir isso, e pior, ainda achar graça. Sejamos sensatos, imagine o fulano no outro lado da linha, ligou pra você, está conversando normalmente, e lá no fundo, numa espécie de "som ambiente", fica ouvindo um marmanjo gemendo, tentando se passar por mulher. Óbvio que ele vai entender que é a velha e clássica piada em questão, mas o que o humorista está tentando fazer? Convencer alguém de que você está com um traveco? E ainda atende o celular no meio da ação pra poder mostrar pra todo mundo? É realmente muito engraçado, me escangalho de rir.

Outra. Você tá com alguém, esperando uma carona chegar, ou mesmo parado na rua. Aí passa aquele carrão, bonito, e de preferência bem caro. Quem é que nunca mandou a clássica "opa, meu pai chegou"? Admito que eu próprio já devo ter falado isso. E sempre rola aquele risinho amarelo, só pra manter a tradição.

Outra. Chega o zuador na escola de manhã, procura um cara qualquer e manda um "Parabéns aí, muleque!". Ok, deve ser o aniversário dele, né? Não, é porque é dia 24, e o ser humano se convence de esse é um jeito muito original de chamar alguém de viado, e ainda de que isso é REALMENTE engraçado, porque sempre cai na risada na frente de um monte de caras sérias, meio sem graças, que vão se dispersando naquele passo meio fúnebre pra largar o cara lá rindo da própria piada sem contranger muito.

Outra, e essa é frequente. Toda vez que rola o assunto sobre maratona, aparece o comentarista esportivo engraçadão que manda a clássica "é claro que os quenianos sempre ganham, ficam correndo pra fugir dos leões e das tribos rivais, né". Cara, é impressionante, sempre tem alguém pra fazer esse comentário. Você tá lá na casa do seu tio, pro Ano Novo, vendo a São Silvestre, e aí chega seu primo pra mandar essa. Você olha pra cara dele meio sem graça, família é família, né. Dá aquele risinho pra disfarçar, e pra ele sair satisfeito, coitado.

Outra. De todas, essa é a que mais me irrita. Quem me conhece sabe que eu toco violão, beleza. Não, não vou falar daquela "toca uma pra mim aí", eu nem ligo muito pra essa, prefiro ignorar. Imagina a cena: eu tô tocando em algum lugar, a galera cantando, tudo indo bem, só diversão. Aí, alguma hora vem aquele ser carente de atenção e pede o violão. Eu entrego na mão do sujeito, achando que ele, de fato, sabe tocar. Aí ele abre aquele sorrisão, satisfeito, e SENTA A MÃO NAS CORDAS, com toda força, aleatoriamente, igual a um aborígene mexendo num notebook. Normalmente ele completa a piada aproveitando a poluição sonora pra inventar uma musiquinha tosca, que quase sempre não rima, e não tem graça. Ele conseguiu a atenção.

E por aí vai, essa piadinhas sem graça nunca vão morrer, porque todo mundo contribui pra isso. Eu contribuo, você também. Aprendemos desde cedo, e mantemos a tradição, honrando a mente genial que a fez pela primeira vez. Você acaba se acostumando, e convive com elas. Dá aquela risadinha quase morta pra disfarçar, ou então pega o celular e manda "Alô? Graça? Dá um pulo aqui."