Bem, galerinha. Chegou agora ao NaQ um assunto que sempre permeou a minha vidinha de acadêmico vagabundo. Não sei como eu nunca escrevi sobre botecos (ou butecos) aqui, já que costumo frequentá-los com alguma regularidade.
Quem me conhece sabe que eu não sou pinguço (e você aí, trate de tirar esse sorriso irônico da sua cara feia). Já houveram épocas em que eu bebia mais, mas hoje em dia sou apenas um bêbado ocasional. Só que isso não importa, o post não é pra ser sobre meu paladar alcoólico, nem sobre os danos no meu fígado, e sim sobre as minhas experiências botequeiras (e se eu invertesse duas sílabas nessa palavra eu estaria ferrado).
Não sou daqueles que já frequentaram milhões de botecos diferentes em lugares diferentes, eu sou um cliente chato, acomodado, que vai quase sempre aos mesmos. Não que isso seja exatamente um problema, porque a primeira coisa que se repara sobre botecos é que eles são essencialmente iguais.
Começando com o que realmente importa, a cerveja. Um boteco mesmo, pé-sujão, preza pela cerveja MUITO gelada. E é isso que o faz sobreviver nessa concorrência contra os barzinhos "higiênicos". A cerveja num boteco é normalmente barata e subglacial. Você vive em um mundo onde faz 45ºC lá fora, mas a sua garganta tá gelada, amigo. Você dá o primeiro gole, e automaticamente aparece aquele sorriso, seguido daquele barulho estranho, que é tipo uma assoprada, mas é também um suspiro, com a boca aberta (acho que quem bebe sabe do que eu tô falando).
E o atendimento? Num boteco mesmo, aquilo que se pode chamar de garçom, se é que ele existe, é o cara mais sagaz do mundo. Você pode chamá-lo de chefia, amigo, camarada, viado, pode ser qualquer merda, que ele te ouve. Aí depois você faz qualquer sinal, QUALQUER UM. Pode ser um polegar pra cima, pode ser uma apontada, uma estalada de dedos, pode dançar a Macarena, o Tcham, ou dança russa, TUDO é interpretado como "traz mais uma aí, por favor". Um amigo meu certa vez chamou o cara e balançou a cabeça menos de meio grau pra esquerda, e em 7.2 segundos havia uma Antártica estalando de gelada em cima da nossa mesa. Espero que ele comente nesse post.
E se você for daquelas pessoas que gostam de comer enquanto bebem? Tudo bem! Se você, obviamente, não tiver problemas de gastrite, úlcera, ou "nojinho", porque sinceramente, algumas comidas de boteco fariam o Seu "Zero Dois" vomitar, pra deixar o Capitão Nascimento puto da vida. Com o meu poder aquisitivo, na maioria das vezes, eu como batata frita. Normalmente é o que há de mais barato nos cardápios, quando há cardápio. E você não quer gastar dinheiro comendo algo realmente comestível, se você foi ali pra beber. Pra comer comida bonitinha eu como em casa, no boteco eu como aquela batata escrota mesmo, cujo o óleo usado na fritura é o mesmo desde 1997. Quem leu Harry Potter pode comparar batatas de boteco com "feijõezinhos de todos os sabores", porque o gosto de cada batata varia de acordo com o que foi frito antes dela. Já comi batata com gosto de peixe, de kibe, de calabresa, de sola de sapato, de meia suja, e algumas até com gosto de nada.
Existem outras coisas comestíveis em botecos, algumas melhores e outras piores. Tem aquele torresminho básico. Ele fica dentro do potinho de bala Sete Belo, custa alguns centavos, e você demora umas três horas pra conseguir vencer a resistência pétrea dele, morder, e desfrutar do gosto do porquinho. Tem também o clássico ovo colorido, mas eu sinceramente nunca fui homem o suficiente pra comer aquilo. Tem frango à passarinho, chouriço com farofa, e uma infinidade de outras coisas que talvez a maioria de vocês leitores nunca tenha colocado na boca (pára de pensar essa piada de cunho sexual que você pensou agora, seu tarado).
E depois que você tá bebendo, o que vem? Sim, a vontade irresistível de ir ao banheiro.
Cara, que bom que a vontade de mijar (ou vomitar) só vem depois de beber, porque encarar certos banheiros sóbrio seria difícil. Eu sou homem, portanto falarei do banheiro dos homens. Ele é normalmente muito simples. Consiste em algum buraco pra mijar, algumas vezes tem pia, e quase sempre tem um cheiro tão forte de urina, que parece que você pulou numa piscina de mijo, ou que tem alguém muito desagradável mijando na tua cara, ou que tem alguém mais desagradável ainda que meteu o "piu-piu" (pra manter o pudor) no seu nariz e começou a se aliviar ali mesmo. É sempre assim, você tá chegando perto do banheiro e do nada toma aquela porrada de cheiro bem no meio da cara, que te deixa até meio tonto. A atmosfera no banheiro masculino é mais quente, mais densa, e eu juro que chega a ser meio amarela. Não consigo descrever nada mais que isso, eu até diria os detalhes, se me lembrasse deles.
A única coisa que varia mesmo de um boteco pra outro é a música. Existe boteco pra todos os gostos, você deve procurar o que lhe completa mais. Tem pagodinho, tem funk, tem reggae, e por aí vai.
Então é isso, vou ficando por aqui, e te encontro no boteco mais próximo. Valeu chefia.