segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Talentos da propaganda

Há uns dias atrás eu estava vendo TV, ou seja, estava fazendo nada. Eu não sei se a maioria das pessoas é como eu, mas eu tenho um pequeno problema nesses momentos: às vezes eu estou olhando pra tela, mas na verdade não estou prestando atenção alguma. Não estou interpretando nada que aparece ali (não que isso seja realmente ruim), e isso acontece com mais frequência durante os comerciais. Isso significa que, quando passa um comercial, eu tenho apenas uma idéia vaga do que ele quis dizer, porque não direcionei meu raciocínio para ele realmente, apenas ouvi inconscientemente. Entendida esta parte, vamos continuar o assunto.

Começou a passar algo que eu interpretei como um comercial do McDonald's. Falava qualquer coisa sobre sanduíches e tudo mais, como sempre. Mas eu senti que havia algo de diferente naquele. Eu não me lembrava com perfeição, e agora vocês já sabem o porquê, mas sabia no fundo do meu subconsciente que eu havia ouvido algo muito ridículo: "VIF's - Very Important Frangos". Infelizmente, quando me dei conta de como aquilo era absurdamente débil mental, o comercial já havia passado, e eu não consegui ver nunca mais.

Num gesto que demonstrou toda a minha inutilidade, fui procurar por esta genialidade da propaganda na Internet. Daí constatei a verdade: sim, eu tinha ouvido certo. Os tais VIF's são uma nova "linha" de sanduíches do Bob's, o "Frango do Chef Ranch" e o "Frango do Chef Siciliano".


Eu mal podia acreditar naquilo! Tal bizarrice era real! Talvez o Bob's estivesse em sérios apuros financeiros, e por isso tiveram que contratar um menino de 7 anos para idealizar uma nova campanha publicitária, oferecendo, como pagamento, um suprimento vitalício de milkshake. Essa é a explicação mais plausível que eu achei na hora.

A partir desse momento, começaram a voltar à minha memória vários comerciais ridículos que eu havia visto ao longo da minha vida, e eu percebi que "VIF's", infelizmente, nem era o pior deles. É impressionante a quantidade de merda (desculpem a palavra) que a gente vê nos intervalos comerciais. É aquela velha história: "como que alguém paga pra levar isso pra TV?".

A começar pelo rival do Bob's, com o seu "Amo Muito Tudo Isso". "Tudo isso" o quê? Se não houver um significado realmente bom pra esse slogan, que, no caso, eu desconheceria, posso seguramente considerá-lo como, no mínimo, muito ruim. Ele simplesmente não faz sentido pra mim. Se fizer sentido pra alguém, estou aberto a ouvir justificativas e ficaria feliz em me desculpar, porque uma empresa grande como o McDonald's merece um slogan melhorzinho.

Continuando. Várias propagandas classicamente ruins mereceriam ser citadas aqui, como qualquer uma das Casas Bahia, ou de supermercados, como o Prezunic (É! Muito prazee-êêêr!) ou o Guanabara. Meu Deus! O Guanabara abusa do direito de ser ridículo, e eu nem sei se isso fica por conta das musiquinhas horríveis ou se fica por conta do Leonardo e do Fábio Jr. Provavelmente é pelo fato dos segundos cantarem as primeiras (Guanabaaaara, tuuudo por você!).

Também me lembrei de uma outra, muito alternativa por sinal. É uma sobre alistamento militar, que tradicionalmente mostraria cenas de soldados, aviões, combates, e tudo mais. O problema desta em especial é que parece que ela foi feita no The Sims! Não sei se todos se lembram, mas eu cagava de rir! Acho que eles queriam passar uma idéia de videogame, então botavam tudo digital, com direito até a uns menuzinhos, tipo de jogo mesmo. A idéia seria boa, se eles não estivessem falando de ALISTAMENTO MILITAR!

Agora, chegamos no auge: há uma empresa que quebra recordes em matéria de propagandas "memoráveis". Estou falando de ninguém mais, ninguém menos que o nosso querido Dolly Guaraná (o sabor brasileeeirooo)!

Chega a ser covardia citá-los aqui. Faz qualquer "quer pagar quanto?" parecer genial.

O início desta era de obscuridade que assombra a TV aconteceu graças a duas celebridades capacitadas para tal façanha. Não podiam ser quaisquer outros. A tarefa simplesmente tinha que ser executada por essa dupla insuperável...


Sim. Quem não lembra do Rafael Vanucci cantando "Doooooolly, Dolly guaraná Dooolly..." com sua voz impecável, enquanto este poço de talento cenográfico, Kleber Bambam, fazia aparições emocionantes, tomando seu guaraná, com aquele jeito que transborda intelectualidade. Duvido que o Martin Scorsese não suspirasse vendo tão primorosa apresentação. O comercial era um sucesso, comentado por todos. Não sei se no sentido exato de como deveria ser, mas de qualquer jeito era comentado.

Mas como tudo fica ultrapassado, com a dupla não foi diferente. Havia a necessidade de, então, se criar algo novo, e que mantivesse o primor do marketing Dolly. Assim, a empresa investiu milhões em tecnologia digital para dar vida ao ícone...


Dollynho! "O seu amiguinho". A perfeição é tamanha que chego a duvidar se não foi o próprio Steven Spielberg que projetou esta maravilha computadorizada.

Enfim, é simplesmente impressionante como as propagandas da Dolly explodem qualquer escala de ridicularidade. Eu não tenho recursos vocabulares suficientes para transmitir o misto de riso esganado e revolta destrutiva que eu sinto ao ver tais apresentações na TV. E digo mais, o Dollyinho me assusta. Parece uma reencarnação do mal, verde, mal-feita e com uma dublagem lixo.

E é com "isto" que eu vou ficando por aqui, fechando este assunto absurdamente extenso. Óbvio que existem muitas outras propagandas pra citar, mas eu não vou fazer isso, e acho que os motivos são igualmente óbvios.

(Se lembrarem de mais alguma, comentem. Se não lembrarem, comentem também.)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

SAC

A sigla "SAC" deveria significar Serviço de Aborrecimento do Consumidor, já que, no dicionário Aurélio, a palavra atender tem como sinônimo "dar ou prestar atenção", ou ainda "receber com cortesia". Infelizmente, todos sabem que a maioria dos SAC(o)'s da vida não são satisfatórios (estou sendo bem respeitoso).

É uma pena mesmo. Algumas empresas não percebem que elas vivem por causa de seus clientes. A impressão que eu tenho é que ninguém parece entender isso.

"Sr. Fulano, nossa empresa está crescendo, precisamos ter um serviço de atendimento para os nossos clientes. Quero que o senhor fique responsável por ele."

"Sim, sim. Precisamos então resolver alguns detalhes aqui. Quantos setores o senhor deseja que ele tenha?"

"Ah, sei lá, coloque quantos forem possíveis e mais uns dois."

Isso é um dos muitos absurdos: o número de subdivisões totalmente desnecessárias que às vezes você tem que passar. Você é jogado para os mais diversos setores e subsetores até que alguém realmente resolva (ou não) o seu problema. É incrível! Parece que fica um jogando a batata quente pro outro. Se você liga pra uma operadora de telefonia, por exemplo, pra reclamar que sua ligação cai às vezes, você vai passar pelos setores de "Perguntas frequentes" e te mandam para "Cobertura Local" e depois "Problemas com o aparelho" e depois "Problemas da Bateria" e "Problemas na Conexão da Bateria", "Soluções Impossíveis", até que finalmente te dizem que você deve ir a uma autorizada. E ainda têm a cara de pau de pedir pra você dar nota pro serviço, mesmo considerando que você perdeu uma hora e meia da sua vida inutilmente.

Ok, mas eles pensam em você! Tranferir a ligação de um setor pro outro pode demorar. Então o que eles fazem? Musiquinha! Pra você não ficar entediado eles põem a mesma música pra rodar durante todos os 40 minutos que você fica esperando ser atendido. Porra! Mesmo que fosse a minha preferida, eu ainda correria o risco de querer explodir o telefone! Até porque eu não estou ligando pra ouvir musiquinha nenhuma! Eu só penso em ser atendido, mas tenho que ficar ouvindo a mesma combinação sucessiva de sons ritmados e harmônicos forçadamente durante períodos que eu descreveria como "no mínimo, torturantes".

Então até agora temos infinitos setores, e, nos intervalos, musiquinhas repetitivas.

Tudo bem.

Pode ficar pior?

PODE!

Pra minha infelicidade a maioria dos atendentes tem um misto de voz, sotaque e construções gramaticais insuportáveis (assim como o telemarketing). E eu sempre me pergunto: PORQUE?!

Porque será que é tão difícil falar com uma voz que não seja anasalada, ou tristezinha, ou arrastada, ou com um sotaque escroto que parece não pertencer a lugar algum? Porque é tão difícil falar "Eu vou enviar" se "Eu vou estar enviando" é beeeeeem maior? Acho que a maioria das pessoas entendem o que eu quero dizer aqui. O jeito de falar deles é simplesmente insuportável! Estas são dúvidas para as quais eu não vejo resposta, simplesmente não faz sentido pra mim!

E quando você finalmente acha que não dá pra piorar, eis que vem o fato derradeiro: o atendimento automático!

Sim. Aquela voz de robô te dando um milhão de opções num menu "interativo". A idéia é muito boa, mas...

"Para dúvidas sobre Planos, tecle um. Para dúvidas sobre o boleto, tecle dois. Para dúvidas sobre o aparelho, tecle três... (bla bla bla bla bla bla bla)... Para repetir as opções, tecle quarente e sete. Se quiser falar com um de nossos atendentes, aguarde na linha."

Sim, é uma coisa bonitinha, mas é extremamente lenta, porque é apenas um robô ditando todos os infinitos setores que existem! O pior é que às vezes é por comando de voz, e o robô acaba não entendendo, o que torna tudo MAIS lento ainda. E no final você infelizmente vai acabar tendo que falar com um atendente de qualquer jeito, mas com o diferencial de que agora você passou por uns três menus, e uns 10 minutos de agonia (a mais).

E é isso. Na pior das hipóteses você fala com um robô lerdo, ouve trinta vezes a mesma musiquinha, tenta explicar seu problema pra um atendente que tem a voz mais insuportável que você pode imaginar, ouve mais musiquinha, mais voz chata, mais musiquinha, mais voz chata, mais musiquinha, mais voz chata, mais musiquinha, mais voz chata, seu problema não é resolvido e o robô lerdo pede pra você avaliar o serviço (e você tem a ilusão de que tá se vingando).