terça-feira, 26 de maio de 2009

Tô voltando

Olá, enorme público que acompanha o Nada ao Quadrado! Admito que sumi, mas digo que não foi culpa minha. A faculdade realmente andou me atormentando nos últimos tempos. Some a isso o fato da minha Internet funcionar tanto quanto uma repartição pública, e você começa a entender o motivo que me levou a, praticamente, esquecer meu tão famoso blog.

Pois então vamos ao trabalho. Ultimamente tenho percebido que, não sei se por causa da Medicina, ou se por alguma tendência natural minha, tenho me tornado cada vez mais nerd. É difícil explicar isso, então vamos a exemplos cotidianos, todos relativamente recentes.

Certo dia, ao chegar à faculdade para mais um "excitante" dia de estudos completamente "interessantes", após ter passado por aquela famigerada viagem que eu encaro todos os dias, que eu definiria como "longa, e muito cheia de gente em muito pouco espaço", fui fazer um comentário sobre a minha odisséia com um amigo meu. Isso é completamente normal: como um bom suburbano, usuário do sistema público de transporte, eu gasto 30% do dia em função dele. 15% dentro do transporte propriamente dito e os outros 15% reclamando do mesmo. O que não foi completamente normal foi o jeito que eu reclamei.

"- Cara, a porra do ônibus tava tão cheio, que eu tive que me mover fazendo diapedese!"

Não que a comparação esteja errada, mas sejamos sensatos, DIAPEDESE?!

Como meu blog só é lido pelos meus amigos e colegas (valeu aí, gente!), e boa parte deles é da faculdade mesmo, pode ser que algumas pessoas tenham entendido, e até dado uma risadinha com a comparação. Para os outros, que não sabem o que é, e na verdade não estão perdendo nada, aí vai uma explicação visual bem rápida.

A diapedese é um processo pelo qual uma célula sai da circulação para um tecido qualquer. Enfim, isso envolve a capacidade da célula de se espremer por entre outras células, como vocês podem ver na figura abaixo.


Reparem na célula à direita, se espremendo toda (é essa coisa amarela, parecendo um pedaço de manteiga derretida). Pois é, só mesmo tendo habilidades assim pra passar por um ônibus nesse estado.


Entenderam a comparação sem graça? Pois é, qualquer um diria normalmente que "o ônibus tava cheio pra cacete", mas o nerd aqui tinha que comparar com essa coisa toda celular. Na hora, a pessoa pra quem eu disse isso riu bastante, e é aí, meus amigos, que eu comecei a perceber que o efeito não é só comigo. Não estou ficando nerd sozinho.

Segunda cena: estava com um amigo meu, que me dá carona, no carro. Estávamos na Av. Brasil, cujo o asfalto pode ser comparado com o solo da Lua (mas isso não tem nada a ver com o relato, foi só uma reclamação solta), e na nossa frente estava um carro qualquer da Honda, não lembro qual era exatamente. E foi nese momento que veio a pérola, não de mim, mas do meu amigo.

"- Não consigo mais olhar pro símbolo da Honda, parece MUITO uma tireóide."

Vocês não sabem como eu ri naquele momento, porque, apesar de ser uma comparação completamente nerd, ele estava coberto de razão. E se você não sabe como é uma tireóide, aí vão as figuras.


Viram como é idêntico? As pessoas comuns veem (ah, reforma ortográfica) um "H", mas nós cagamos de tanto rir achando que era igual a um órgão endócrino.

Agora vamos para mais uma situação. Estávamos no bandejão (restaurante universitário), eu e algumas pessoas da minha sala. Antes que perguntem, a comida de lá é boa, tem ar condicionado, é limpinho e barato.

Conversávamos alegremente enquanto comíamos, a mesa cheia, vários assuntos surgindo, tudo muito normal. Até que alguém fez o comentário de que a fila do bandejão é sempre muito grande, enquanto que lá dentro sempre têm cadeiras vazias. Aliás, isso não era uma reclamação, era um elogio, porque o sistema de lá é feito de maneira que o restaurante nunca precise fechar por estar lotado. A comida é servida numa velocidade que impede a superlotação, entenderam?

Pois então, um dos meus companheiros de classe, aparentemente passando pelo mesmo processo "nerdificante" que eu, em vez de dizer que "a comida é servida numa velocidade que impede a superlotação", disse algo como "funciona assim como se fosse um sistema enzimático. Tem substrato demais pra pouca enzima."

Te juro. Todos nós entendemos aquilo superbem. Ninguém fez essa expressão bovina que alguns de vocês leitores provavelmente podem ter feito. Óbvio que essa pode ser um pouco mais difícil de explicar, e que mesmo que vocês entendam não vai ter a mínima graça, já que ela está aqui apenas como exemplo, e não porque é hilária, assim como os outros casos.

E como se isso já não fosse suficiente, na mesma ocasião, eu soltei mais um comentário digno de citação aqui. A gente tava lembrando de um dia que serviram uma comida lá, que na verdade é uma carne moída com ovo e mais algumas coisas, mas tem um nome escroto de gente, acho que é Silverinha ou Ferreirinha. Enfim, não importa o nome, o que importa é que aquela coisa praticamente não tinha ovo, e eu PODIA TER DITO DESSE JEITO, mas não, eu disse que "a prevalência do ovo na população de carne moída era muito baixa", claramente fazendo uma alusão à taxa de prevalência das doenças na população. Foi exatamente nesse dia que eu resolvi voltar a escrever no NaQ.

Ou seja, cada vez mais eu vou me reafirmando como um nerd, e isso só não é mais traumático porque eu passo quase o tempo todo na faculdade, e as pessoas entendem esses comentários normalmente. Seria mais cômico se não fosse trágico. Admito que é bem estranho, mas eu consigo dar altas risadas comigo mesmo ao pensar nisso.

Ser nerd é esquisito, mas é divertido. Você não é uma pessoa muito popular, mas e daí? Pelo menos rende postagem no blog (e por pensar assim, me confirmo como MUITO nerd).

Agora finalizando, juro que vou tentar manter isso aqui ativo, não ando muito criativo, a Internet não ajuda, a falta de fama também não. Por isso ajude: comente essa budega! Até mais.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

15/05/2009

É uma sensação terrivelmente indescritível perceber que este dia 15 do mês de maio, neste momento, não consegue ser nada mais do que um mês exato após o dia 15 de abril de 2009, e só. Tudo é muito estranho, com nuances de incompreensão, com pitadas de apatia, com tristeza.

A rapidez foi impressionante, e a surpresa nada agradável, obviamente. E ainda tem a revolta. Funciona assim, num turbilhão desses sentimentos que, mesmo um mês depois, ainda teimam em não se organizar. Fica difícil escrever o que sente, é difícil falar o que sente, é difícil sentir isso tudo.

Não sei porque escolhi escrever sobre isso exatamente um mês após, já que a saudade não tem noção de tempo. Mas é tendência nossa, na condição humana, marcar o tempo com exatidão, e esses marcos ainda são picos de lembrança, mesmo das coisas que nunca são verdadeiramente esquecidas.

Pois é, amigo, você foi assim, do nada. A gente nem se despediu, e nessas horas eu penso se realmente teria tido condições de fazer isso com alguma coerência. Sejamos francos, nós nunca esperamos a morte, a juventude tem um ego enorme. Mas a morte veio, e dessa vez a egoísta foi ela, como um raio, gritando a fragilidade da vida.

Sendo assim, sento-me aqui, escrevo algo entre uma homenagem póstuma e uma suposta despedida, e nunca saberia lhe dizer o quanto é incompreensível vincular palavras como “póstuma” e “morte” à sua imagem, mas saberia lhe dizer que é um irmão pra mim. O que escrevo aqui carrega, agora, todo peso da amizade que tenho por uma pessoa que invariavelmente morreu, está carregado de amor fraterno. É assim, amigo, você pode ter ido, mas continuará vivendo juntamente com as pessoas que te amam, e acredito que essas palavras poderiam ser proferidas por qualquer uma dessas pessoas, acredito que falo em nome de muitas delas. Você é muito amado.

Meus olhos ainda se enchem de lágrimas tímidas, meu peito ainda dói, evito prontamente tocar no assunto, eu confesso. A carga é alta demais. Não posso privar o meu pensamento de reviver o cotidiano, de reviver os momentos marcantes, de reviver toda a história. Cada segundo de pensamento é uma finíssima agulha no coração.

Mas você lembra quando prometíamos ser amigos a vida inteira? E que faríamos com que nossos filhos fossem amigos, assim como nós somos? Acho que era uma coisa tão boa que simplesmente queríamos que nossas crianças, alvo de todo nosso amor, sentissem o que nós sentíamos. Por isso não posso parar de considerar com certo pesar que sua jornada tenha sido interrompida.

Enfim, meus filhos não conhecerão os seus, mas certamente saberão que o pai ainda tem um grande irmão, que mesmo ausente está presente, nesse paradoxo tão complexo, que só a amizade verdadeira pode proporcionar.