sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ventoinha

A cena é bem simples. Estava eu chegando no meu prédio.

Um pequena explicação, antes: meu querido condomínio dispõe de dois elevadores. Mas só um funciona por vez. Sim, às vezes é porque um deles está quebrado, às vezes porque está desligado pra economizar energia, mas eu acho que na maioria das vezes eles desligam um elevador só pra foder a nossa vida mesmo.

Só pra constar, meu prédio tem 90 apartamentos.

E apenas um elevador funcionando por vez.

Bem, voltando à história, então.

Lá estava eu, esperando os habituais 38 minutos para conseguir pegar um elevador, quando dei uma olhadinha pro lado, e vi o seguinte recado da Comissão Administrativa do prédio.


Tá, eu até entendo, e agradeço, o recado dizendo que o elevador tá quebrado, e que eles tão se mobilizando pra consertar e tudo mais.

Mas pra quê diabos o cara me disse que é o rolamento e a ventoinha que estão com defeito? Será que ele achou que algum condômino sabe alguma coisa de elevador?

"- Ih rapaz, esse barulhinho, ó. Mas isso só pode ser a ventoinha, mermão. Tá me cheirando a ventoinha. Eu sei TUDO de ventoinha. E digo mais, tá com carinha de que o rolamento tá gasto também, hein. Ouve só esse barulhinho. O quê que é isso? É o rolamento gasto arrastando na ventoinha, ué! Pó mandá trocá a porra toda!"

Sei lá, ele pode me dizer que qualquer coisa tá com problema que eu acredito. O difusor triplo, o fluxonador quadrático, a roldana biriliforme, a placa transderônica de emergência, ou até o cabo sanfonado transverso da puta que te pariu, eu ia acreditar da mesma forma.

Eu hein, é cada um que me aparece...

domingo, 11 de abril de 2010

Indecisão

Eu sou um cara indeciso.

Na verdade eu sou um cara excessivamente indeciso.

Situações de escolhas cruciais pra mim são horrivelmente tensas. Exemplo? Comer no Spoleto.

Rapaz, que lugarzinho dos infernos. Pra trabalhar lá você deve ter que possuir capacitação em terror psicológico qualificado. Sério, o cara põe lá o macarrãozinho pra cozinhar e depois fica te massacrando com perguntas desesperadas sobre o que você quer pra compôr o prato. Parece que a segurança do mundo inteiro depende do fato de você combinar certinho as coisas no seu prato. Gente, será que ele não entende que aquilo é um processo complicado? Eu tenho direito a uns 8 componentes diferentes, tenho que fazer direito, oras. Tem que rolar uma química com cada ingrediente, eles têm que me mostrar o que têm a oferecer estando na minha comida.

Mas foda-se.

O puto do chef não entende nada disso, ele fica lá te olhando, suando, e com sangue nos olhos. Aparentemente, se eu demorar muito pra escolher o champignon, a mãe dele morre, e se eu ficar indeciso entre milho ou ervilha, ele desenvolve um câncer.

A cara dele é doentia, e ele te faz se sentir a pior pessoa do mundo só por estar escolhendo, porque se você fica demorando ele fica te oferecendo as coisas. Cara, eu não sei se ele entende que ele não sabe o que eu quero comer, não adianta. Mas mesmo assim, eu quase explodo, acabo escolhendo qualquer merda e odiando a comida, por mais que eu goste muito de macarrão (se bem que eu comi no Spoleto esses dias, e acabei gostando do que eu escolhi, por mais que eu tenha chorado por duas horas depois do processo de seleção dos componentes do prato).

Outro lugar que se parece muito com o Spoleto, guardadas as devidas proporções, obviamente, é o consultório do oftalmologista.

Ele põe aquela máquina na tua cara e sai trocando as lentes perguntando se melhora ou piora. Mas o pior é que ele sempre troca antes que você possa sequer dizer se melhorou ou não, porque as diferenças são muito sutis, e porque ele troca aquela merda a cada 0.3 segundos em média. É muita responsabilidade, sei lá, aquilo ali é importante, vai definir seu óculos, lentes, ou até cirurgia se você errar feio. Já pensou?

- Essa aqui é melhor?
- Eu acho q...
- E essa?
- Bem, essa aí...
- E essa?
- Não, peraí, volta lá na...

- E essa?
- Calmaí, cara..
- E essa?
- Porra, sei lá!
- Ok, já tenho o resultado, infelizmente é mais sério do que eu pensava, vou marcar sua cirurgia pra sexta que vem, você tem vinte e dois graus de miopia no olho esquerdo, e tem oito mil, trezentos e setenta e nove graus e meio de astigmatismo no olho direito. Acerta o pagamento da consulta com a Clotilde, minha secretária, quando sair.

domingo, 4 de abril de 2010

Soja

Tenho uma confissão a fazer.

Eu tenho medo da soja.

Sério, tenho medo mesmo.

A soja é o elemento mais versátil da natureza. Dá pra fazer tudo de soja. É praticamente um MacGyver plantável. Ela é o trunfo dos vegetarianos, pois já que eles não podem comer um monte de coisas (que, aliás, são muito gostosas), eles dão um jeito de fazer tudo de soja. E é isso que me dá medo.

A soja é um grão, UMA PORRA DE GRÃO!, mas mesmo assim dá carne, leite, óleo e biodiesel. É a humilhação da vaca, coitada. Não me espantaria se pegasse uma mimosa desesperada espremendo as tetas até sair gasolina.

Eu fui dar uma olhada pela Internet e descobri a existência de cosméticos, tintas, resinas e solventes à base de soja. Isso é loucura, cara. Não me espantaria se abrisse um livro de Biologia agora e visse que o corpo humano é "30% oxigênio, 15% nitrogênio, 12% carbono, 9% hidrogênio, e de resto é tudo soja, mermão!"

Eu particularmente nunca comi nada de soja. Os vegetarianos dizem que é bom, mas eles não comem carne, então não têm nada realmente bom com que comparar. A opinião chega a ser meio inválida. Além disso, os que têm bom gosto e já comeram carne de soja dizem que nunca trocariam uma boa picanha por aquilo. Eu prefiro acreditar nesses últimos.

Um amigo meu disse que foi numa casa e serviram lasanha de soja pra ele. Pra mim isso é a gota d'água. A soja é um grão, deveria NO MÁXIMO derivar um farelinho e pronto, mais nada. Ponha-se no seu lugar, grãozinho dos infernos.

Talheres de plástico e sachês

Existe uma lenda sobre um cara.

Um cara que decidiu um dia que queria dedicar sua criatividade para o mal das pessoas. Um supervilão. Uma mente doentia, criminosa.

Um corno.

Foi nesse momento de reflexão profunda que ele idealizou e fabricou os talheres de plástico e os sachês de ketchup, mostarda, maionese etc.

Eu queria encontrar esse corno. Poderia matá-lo a facadas, mas facas de plástico nunca cortam nada. Sim, elas não cortam, elas vencem por insistência: você esfrega tanto a faca na comida que a comida sente pena de você e se divide. Garfos de plástico são feitos para se quebrarem em momentos cruciais, e apenas 2% dos sachês são feitos para se abrirem com facilidade.

Maldito corno.